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Situado numa aldeia praticamente deserta do interior de Portugal, o projeto de turismo rural de Felgueira resulta da transformação de uma habitação abandonada ao longo dos anos. Além do estado precário em que os espaços se encontravam, o conjunto arquitectónico era composto por uma série de justaposições volumétricas construídas pelos últimos ocupantes.
O projeto de recuperação foi desenvolvido pelo jovem arquiteto portugês André Eduardo Tavares, que pouco depois de ter terminado a sua formação criou o seu próprio atelier e tem desenvolvido vários projetos interessantes ao longo dos últimos quinze anos.
No meio de uma paisagem montanhosa, o lote encontra-se no cimo de um vale entre os terrenos agrícolas responsáveis pela subsistência económica da aldeia e uma das ruas de trânsito local. Os espaços provenientes da construção fragmentada encontravam-se bastante frágeis e por isso não havia qualidade construtiva ou interesse arquitectónico que motivasse a sua permanência. Apesar do núcleo central do conjunto também resultar de uma evolução volumétrica que começou num só corpo e acabou por dar origem a um segundo volume a uma cota superior, a sua estrutura em alvenaria de pedra tipicamente portuguesa fizeram com que estes dois espaços fossem o centro da nova intervenção.
O trabalho desenvolvido pelo arquitecto partiu de uma análise dos vários elementos constituintes que, combinada com a adição de novos espaços, construiu uma nova identidade e redefiniu a sua relação com a envolvente. Por se situar numa encosta com declive acentuado foi possível tirar partido do terreno, integrando acesso direto pelo exterior aos três pisos. A ampliação concentrou-se no piso térreo sendo que foi preconizado o mesmo sistema construtivo e a utilização de materiais locais.
Sendo um projeto dedicado ao turismo, as áreas foram divididas de forma a integrar quatro quartos divididos igualmente por duas unidades autónomas. O programa adaptou-se à compartimentação existente, mantendo o máximo possível as suas funções originais. Apenas o piso inferior, inicialmente destinado ao apoio à criação de animais, foi transformado num novo espaços de alojamento.
Com a ampliação da área total e a novo sistema funcional dos volumes, foi necessário modificar o sistema de aberturas. Apesar de algumas janelas terem sido eliminadas, foram criadas novas de dimensões superiores, apropriadas às tipologias atuais.
Apesar de se ter mantido a alvenaria de pedra no exterior, o estado de conservação dos interiores não permitiu que se reutilizassem os pavimentos, a esquadrias interiores ou o revestimento da cobertura. O design de interiores acabou por se basear em dois sistemas de materiais distintos consoante a sua posição no projeto. O primeiro foi utilizado nos compartimentos térreos caracterizando-se pela utilização de betonilha aditivada com óxido de ferro nos pavimentos, reboco em cal nas paredes e tetos com vigamentos aparentes. Nos outros pisos a madeira foi o material de eleição, tanto nos pavimentos como nos tectos e rodapés garantindo um ambiente mais caloroso ás divisões mais intimas.
De forma a melhorar o conforto térmico, foi ainda necessário construir uma parede em bloco de termoargila no interior da alvenaria das fachadas. Apesar da inserção de novos materiais no projeto, foi possível manter o aspeto rústico da casa através da pontuação dos espaços com a pedra tipicamente portuguesa e alguns elementos estruturais visíveis.
Apesar da sobriedade do projeto, foi colocado mobiliário colorido na cozinhas que pontua as unidades construtivas com alegria e confere outra dinâmica ao espaço
Esta intervenção de 2012 é praticamente invisível, o que revela o trabalho excepcional do arquiteto que transformou uma construção fragmentada num projeto coerente que aparenta ter sido totalmente construído na mesma época.
O resultado é um espaço dedicado ao turismo rural que participa na criação de novas vivências numa aldeia outrora desertificada. Parece ter-se criado uma nova fonte de rendimento económico num área que vivia exclusivamente da agricultura.
