A arquitectura dos espaços mais antigos de Lisboa é sempre surpreendentemente graciosa. Marcados pela escala humana, materializados em alvenaria e madeira, estes espaços sobreviveram à acção do tempo constituindo-se como um testemunho da história da construção em Portugal.
Hoje apresentamos-lhe um trabalho de reabilitação e adaptação dum espaço consideravelmente degradado, no centro de Lisboa. Desenvolvido através de um projeto humilde, a habitação destaca-se pela preservação das suas características históricas e o seu novo conforto contemporâneo.
DNSJ.arq foi o atelier responsável pela intervenção. Herdeira do atelier do arquitecto Duarte Nuno Simões, a equipa é marcada por um trabalho multidisciplinar capaz de compreender e respeitar o nosso património e construir o futuro.
Entre as ruas históricas do bairro de Santos, o espaço intervencionado encontra-se na Rua das Trinas rodeado por várias construções degradadas. Apesar do interesse arquitectónico do imóvel, o edifício de três pisos apresentava-se severamente degradado ao nível de acabamentos, apresentando também alguns problemas de caráter estrutural.
Dadas as características da construção, um dos pontos fundamentais da intervenção foi o reforço da estrutura original da casa em madeira e a introdução de novos isolamentos térmicos. Após a resolução deste problema, os arquitectos focaram o seu trabalho na melhoria e substituição dos acabamentos. Deste modo, foram integrados soalhos inteiramente novos e revestimentos de gesso cartonado por toda a casa que acabaram por transformar totalmente o ambiente dos espaços. A reconstrução total da cobertura, permitiu assentar as cargas nas paredes exteriores, libertando totalmente a área da sua anterior estrutura.
O esquema funcional da habitação foi resolvido consoante as características que a construção original e a reabilitação permitiram. Assim, ao contrário da maioria dos projetos habitacionais, a zona de estar, zona de refeições e cozinha foi integrada no segundo piso em modo open space. As restantes divisões como os quartos e as casas de banho acabaram por ser materializar no primeiro piso.
Os novos acabamentos permitiram criar ambientes surpreendentemente agradáveis. A abundante presença do branco é equilibrada pela integração de soalhos em madeira de pinho – uma excelente combinação entre a nova dimensão contemporânea da casa e a sua origem tradicional. Além dos revestimentos, foram integradas novas mobílias que permitiram organizar o espaço, sobretudo no segundo piso, ao mesmo tempo que se aumentou o espaço disponível para arrumação.
Uma das alterações mais interessantes de todo o projeto foi, sem dúvida, as escadas. Além de se ter modificado totalmente os materiais que a revestem, foi criada uma clarabóia na cobertura que garante uma iluminação zenital. O elemento funcional tornou-se de tal forma agradável que além de assegurar a circulação vertical, criou um espaço agradável onde dá vontade de sentar a conversar.
Grande parte da qualidade da intervenção desenvolvida deve-se à humildade com que todo o projeto foi desenhado. Desde o respeito pelo património construído à escolha de alterações pouco dramáticas, o trabalho dos arquitectos permitiu criar um resultado de leitura clara, que prima pela sua simplicidade. Mais uma vez são os projetos mais simples que escondem as histórias mais complexas.